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Este blog, amador, foi criado com o intuito de divulgar atividades e acontecimentos relevantes da Serra do Caramulo, bem como o seu património! Fornece, também, informações importantes para quem pretende visitar e conhecer a região! "Viaje" pela Serra (des)conhecida, explorando os seus conteúdos!

Floresta e Incêndios

Quando li a edição do Jornal de Tondela de 20 de Junho de 2003, chamou-me à atenção o seguinte artigo: “Floresta e o papel dos jovens na sua preservação”. O artigo relatava um debate realizado num dos auditórios do Novo Ciclo sob a responsabilidade da Lusitânia- Agência de Desenvolvimento Regional Dão Lafões. Um dos objectivos deste debate era “incutir nos jovens, nomeadamente do 2º e 3º Ciclos do Ensino Básico e do Secundário o papel de que estes podem desempenhar na sua preservação”. Foram abordados vários temas: O eucalipto e os incêndios florestais; A capacidade regenerativa do Pinheiro Bravo ...
Achei interessante o que li, no entanto poderia ser ainda mais interessante abordar estes temas a nível local (Concelho de Tondela), nomeadamente a relação entre as características da floresta e os incêndios. Conhecendo um pouco melhor as características florestais do Concelho de Tondela, os nosso jovens estariam mais sensibilizados para a sua preservação. No âmbito deste tema: Incêndios e floresta, podemos tecer algumas considerações a nível concelhio.
Por incêndios florestais entendemos todos aqueles que ocorrem em áreas em que o combustível é sobretudo a vegetação, na realidade são as características dos combustiveis que vão ditar o comportamento do fogo. O concelho de Tondela apresenta na sua maioria povoamentos de pinheiro bravo (Pinus pinaster ) e eucalipto (Eucaliptos globulus). O pinheiro bravo é uma resinosa que foi semeada com enorme profusão, tendo ampliado a sua área depois da política de arborização do «Estado Novo», as montanhas de Portugal transformaram-se então num imenso pinhal, não natural dessas Zonas que tinham sido ocupadas por carvalhais cauducifólios.  O pinheiro bravo é pois a resinosa mais frequente no nosso país; como a palavra resinosa indica, esta árvore tem na sua composição química substâncias altamente inflamáveis o que as torna susceptíveis ao fogo. É frequente os incêndios nos pinhais desenvolverem-se sobretudo junto ao solo, queimando a caruma e o mato, podendo afectar em maior ou menor grau as árvores.
Quanto ao eucalipto é uma espécie que a partir da década de 70 começa a sobressair-se cada vez mais e difundir-se rapidamente. Esta difusão atribui-se por um lado, aos incêndios florestais, pois é uma espécie que após um ou mais incêndios na mesma área, cresce rapidamente (muitas vezes depois do corte, rebenta pela cepa). O eucalipto cresce pois com rapidez comparativamente ao pinheiro, o que explica que este último venha a ser substituído pelo primeiro, satisfazendo mais rapidamente as indústrias de pasta de papel e de celulose. Na sua composição química existem substâncias voláteis altamente inflamáveis, que libertam uma grande quantidade de energia ao arder.
Embora nos eucaliptais a vegetação arbustiva não seja geralmente abundante, é fácil um incêndio neste tipo de árvores passar para as copas e propagar-se entre elas, com os riscos próprios deste tipo de incêndios. De acordo com o inventário da D.G.F. (Direcção Geral das Florestas), em 1974 o concelho de Tondela apresentava em termos totais de ocupação de pinheiro e eucalipto, respectivamente 94% e 6% Estes valores são hoje um pouco diferentes, salientando-se o aumento da ocupação de eucalipto, mas mantendo-se ainda uma maior ocupação de pinheiro bravo em relação ao eucalipto
O concelho de Tondela apresenta em termos gerais três situações bem distintas; por um lado a parte do “planalto beirão” e a vertente oriental da Serra do Caramulo com o predomínio do pinheiro bravo, onde se verifica um sub-bosque caracterizado por urzes, carquejas, fetos e medronheiro; além destas espécies cresce também o eucalipto e mais raramente os sobreiros, castanheiros e carvalhos; o predomínio do pinheiro bravo torna-se cada vez mais escasso “à medida que se sobe”, pois as condições do clima e solo opõem-se à sua presença. A segunda situação são os “cimos da Serra” às quais corresponde sobretudo áreas incultas com predomínio de matos. Estes “cimos da Serra” são pois ermos e o granito aflora em grandes extensões e a existência de árvores é escassa, dominando a urze, a queiró, o tojo, a carqueja, assim como as giestas.
A terceira situação diz respeito à vertente ocidental da Serra do Caramulo, onde nas altitudes inferiores a 600 metros, deixamos de ter pinheiro bravo e começa aparecer o eucalipto em mancha continua, prolongando-se até às proximidades de Águeda.
Ficando a saber um pouco mais das características da nossa riqueza florestal, poderemos ter todos um papel mais consciente na sua preservação contra os vários riscos a que está sujeita, sobretudo o risco de incêndio.

Pedro Luís .S.Pereira
Publicado em Jornal de Tondela. nº 637- 3 de Julho de 2003.

Mel de Valdasna

Nas proximidades da povoação de Valdasna, freguesia de S. João do Monte, desenvolve-se uma importante produção de mel. Os Gregos e Romanos chamavam-lhe de «ambrósia» e era considerado um «alimento digno dos Deuses». Muito antes de ter sido introduzida a apicultura, o homem da Idade da Pedra aprendera a apreciar o mel das abelhas selvagens, e na antiguidade, os Egípcios, Persas e Chineses conheciam-lhe o valor…










Legenda: 1- Cortiços no local de Açor; 2- Barracão de apoio à apicultura no Batoco; 3- Travessia do Rio Águeda para se atingir as colmeias; 4- Colmeias móveis.
A produção de mel nesta área e em toda a região da Serra do Caramulo prima pela excelente qualidade resultante de uma flora diversificada e livre de poluição. A juntar a isto não podemos esquecer a conjugação de outras características naturais (climáticas, geomorfológicas...) que directa ou indirectamente contribuem para o apuramento de um produto com um sabor ainda mais peculiar.
O Sr. Arménio Lomba, residente em Valdasna, é um dos principais apicultores da Serra do Caramulo. Tem participado em várias feiras e certames. Não deixou de estar presente na última FICTON, onde obteve um elevado número de vendas.
A experiência acumulada ao longo de cerca de onze anos permite-lhe obter um produto de admirável sabor. O segredo deve-se não só à mãe natureza, mas também à preocupação de utilização de métodos que não alterem as verdadeiras propriedades do mel. Não só os habitantes locais procuram adquirir este delicioso produto, mas também pessoas de outros locais mais longínquos (Região da Bairrada, Lisboa, Mortágua...). Quem estiver interessado em obter este genuíno mel pode contactar o Sr. Arménio através do número 93 3806416.
Este jovem apicultor esclareceu que existem diversas qualidades de mel, distinguindo-se primordialmente, pela época de produção, flora de onde o néctar é extraído e tratamento tecnológico a que é sujeito: o mel de Primavera, o melhor, e o de Outono o pior; as proveniências do néctar podem ser diversas, como o rosmaninho, a laranjeira, o eucalipto, a urze, etc. Esclareceu também que apenas e somente vende mel de Primavera para não defraudar as expectativas dos seus clientes.
Segundo informações recolhidas no local, o mel é produzido pelas abelhas a partir do néctar das flores ou das exsudações naturais doces colhidas nos caules e folhas de certas árvores, e é principalmente constituído por uma mistura de água e de açúcares simples, a frutose e a glucose. Quanto mais limpo for o mel, maior será a proporção de frutose. O mel acaba por endurecer se for conservado durante muito tempo, bastando no entanto colocar os frascos ao Sol para que fique novamente líquido.
O Sr. Arménio Lomba é um defensor das inquestionáveis propriedades medicinais do mel e fez questão de enumerar alguns dos seus benefícios:
- consumido com moderação, constitui um alimento saudável, sendo inclusivamente, recomendado para determinadas doenças cardíacas;
- o mel fornece quantidades insignificantes de nutrientes, mas mesmo esse teor mínimo faz dele uma opção ligeiramente mais saudável do que o açúcar branco refinado, que contém apenas calorias «vazias»;
- o mel conserva ainda a sua reputação como remédio para tratar problemas respiratórios, particularmente quando há expectoração;
- também é famoso pelas suas propriedades anti-sépticas- os Gregos e Romanos diziam-no capaz de curar feridas;
- tal como o açúcar o mel tem um ligeiro efeito sedativo;
- prepare uma bebida para as dores de garganta adicionando duas colheres de chá de mel e o sumo de metade de um limão. O liquido adoçado estimula a produção de saliva, que acalma a secura e irritação da garganta.;
- também este estimula o cérebro a produzir endorfinas, os analgésicos naturais do organismo.
- a tradição e a lenda conferem ao mel qualidades únicas desde afrodisíaco a elixir da juventude.
Há quem diga que o preço do mel é elevado, no entanto se tivermos em conta os seus benefícios, os cuidados a ter na sua produção e se soubermos que para produzir 0,5 l de mel, as abelhas têm que recolher o néctar de cerca de 1,5 milhões de flores, obviamente que a opinião será outra.
“Comer mel é sinónimo de uma vida mais saudável”.
Pedro Pereira
Publicado no Jornal de Tondela- nº702- 30 de Setembro de 2004

Laranjas da Serra do Caramulo- Um breve apontamento

A leitura da reportagem "Caramulo – Uma aposta séria nas potencialidades naturais da Serra", publicada na edição nº 761 deste jornal(Jornal de Tobdela) suscitou a realização deste apontamento. Segundo informação da notícia publicada, está em marcha um Plano de Acção de Desenvolvimento Rural que visa potenciar um conjunto de produtos endógenos…O projecto é promovido pela Associação de Desenvolvimento da Região de Tondela (ADERETON).
"Catarina Chaves começou por dizer ao nosso jornal que os produtos que fazem parte do programa desta acção de desenvolvimento, como o mel, o linho e a laranja de Besteiros resulta de um estudo efectuado no território de cerca de 13 freguesias do concelho de Tondela, ou seja aquelas que estão mais orientadas para Serra do Caramulo". Podem-se acrescentar mais algumas considerações importantes a este estudo. Todos nós conhecemos a inquestionável qualidade das laranjas de Besteiros. Contudo, a existência de laranjas de qualidade no concelho, não se restringe apenas à Terra de Besteiros…
Em plena Serra do Caramulo encontramos lugares com grandes potencialidades na produção destes citrinos. Quatro lugares pertencentes à freguesia de S. João do Monte (Almijofa, Quinta de Menderes, Mançores e Metadegas), apresentam a particularidade de produzirem deliciosas laranjas, ainda que localizados em plena Serra, onde não seria de esperara existência deste produto com grande qualidade.
As laranjas mais famosas são as da Quinta de Menderes e de Almijofa. Tal facto deve-se a condições naturais muito específicas, nomeadamente no que diz respeito aos aspectos climáticos.
O clima de toda área serrana é condicionado por factores gerais e factores locais. A situação geográfica em altitude e a circulação geral são determinantes em relação aos factores locais de disposição das vertentes, altitude, proximidade do mar, rumo dos ventos dominantes, etc. Embora estes factores se façam sentir e contribuam para a criação de características climáticas diferenciadas, é de salientar as situações particulares de abrigo em relação aos ventos marítimos em que se localiza o lugar de Almijofa cuja vertente se encontra, por um lado a altitude reduzida e protegida dos ventos marítimos por um obstáculo interposto, e por outro suficientemente exposta para sofrer um grau de insolação significativo. Estas características climáticas especiais, resultantes da própria topografia do terreno dão origem a um microclima, possibilitando a cultura de várias espécies agrícolas, nomeadamente as laranjeiras.
Árvores de folhagem persistente, pertencentes à família das Rutáceas, as laranjeiras, são originárias da China e foram introduzidas na Europa pelos árabes, o que não deixa de ser curioso pelo facto da palavra Almijofa ser de origem árabe…Amadeu Ferraz de Carvalho no seu livro, a Terra de Besteiros e o Actual Concelho de Tondela, a respeito de Almijofa, escreveu o seguinte: "Almijofa, também conhecida por Almejofa, segundo informação do Sr. Dr. J.P. Machado, poderá ter a sua origem em al-mejõf, ou melhor, em al mijõfa, feminino da primeira e nesse caso significaria ôca, vazia, deserta (sc. Aldeia). Nas adições aos vestígios da língua arábica de Fr. João de Sousa Moura dá-lhe por empréstimo dá-lhe por étimo almojanafa, a cousa côncova ou encovada", qualificativo referente à situação topográfica do lugar em sítio côvo, deprimido e fundo, o que realmente se verifica. (Cf. Dr. J. Da Silveira – Almojoafas, Ver. Lusitana, vol.38º, pag 270)".
A aldeia de Almijofa, apresenta no momento um quase deserto de habitantes. Com grande tristeza nossa, verifica-se que os terrenos de cultivo e muitas árvores de fruto encontram-se ao abandono por falta de mão obra. Em certos locais os eucaliptos já tomaram conta de muitas das terras cultiváveis, crescendo ao lado das laranjeiras. Para contrariar este cenário, o anunciado Plano de Acção de Desenvolvimento Rural do Caramulo, poderia incrementar nestes espaços uma acção preponderante, desenvolvendo planos que potenciassem este produto nesta zona serrana. Independentemente das linhas de actuação, esperamos que o resultado final seja o mais profícuo possível para ao desenvolvimento das freguesias que são alvo deste Plano de Acção.
Pedro L. P.
Plsp@sapo.pt
Publicado no "Jornal de Tondela" (data: ?)

A Feira de São João do Monte

A necessidade de troca de produtos pode explicar o aparecimento das feiras. A feira de S. João poderá estar relacionada com o próprio isolamento desta terra em tempos primórdios. À feira de São João do Monte eram atraídos um grande número de população que iam vender gado ou comprar tecidos para roupas, assim como sementes para os campos e uma outra alfaia que o ferreiro não conseguia fabricar.

Sardinhas
A sardinha vendida na feira em outros tempos, era trazida a pé por sardinheiras que vinham do lado da terra de Besteiros. Era transportada em cestas e gamelas acondicionada em muito sal. O trajecto para cá chegar não devia ser “pêra doce”, daí muitas vezes ter de parar-se para retomar forças, em determinados locais do trajecto. Eram os chamados pousos, como os da Mata da Galinha no alto do Caramulo. Muitas pessoas traziam ovos que os vendiam a feirantes e com esse dinheiro compravam a sardinha. Facto curioso era a sardinha apresentar um aspecto sempre fresco. Até que um dia foi desvendado o mistério. A dada altura, dois homens naturais de São João do Monte foram buscar vinho com dois burros à terra de Besteiros acondicionado em odres de pele de cabra. Ao passaram na ponte sobre o rio Criz, viram as sardinheiras a lavar a sardinha no rio, para esta apresentar um aspecto sempre fresco…

Criação
Esta feira foi criada por deliberação da Junta em 4 de Março de 1888 e realizava-se no terceiro Domingo de cada mês. De 1888 até 1927 esta feira, tinha características um pouco diferentes de quase todas as outras. Realizava-se da parte da tarde e numa altura em que todas as outras feiras estavam proibidas de funcionar ao Domingo, por imposição da igreja, esta realizava-se sem qualquer impedimento das autoridades, visto que para esse efeito tinha uma autorização especial.
O Sr. Elísio do Carmo, relatou um pormenor interessante: “Um dos primeiros feirantes foi um tal de Sr. José Vilharigues, que provavelmente seria originário da povoação de Vilharigues. Quem me contou foi o Sr Bernardo Henriques da Costa, que viveu entre 1884 e 1961”.

Dezanove
Em 1927, a data da sua realização foi mudada para os dias dezanove, devido a uma decisão da Junta de Freguesia tomada em 26 de Junho desse ano. Nessa altura, o recinto animava-se a partir das treze horas, altura em que as gentes começavam a afluir depois de fazerem algumas tarefas de manhã, muitas delas relacionadas com a lida do campo.

Acta da mudança da Feira em 26 de Junho de 1927
Aos vinte e seis dias do mez de Junho de mil novecentos e vinte e sete, n'esta freguesia de S. João do Monte e sala das sessões da comissão administrativa civil, estando reunidos os membros, Senhores João Martins de Almeida Presidente e os vogaes José Luiz da Paz e Manoel Fernandes Firme pelo presidente foi em nome da lei aberta a sessão. Pelo presidente foi proposto que se torna de grande utilidade para a freguesia a mudansa do dia do mercado que se efetua neste lugar de S. João do Monte, nos domingos treceiros de cada mez para o dia desenove também de cada mez. Depois de varias opiniões concordou toda a comissão que fosse o dia desenove de cada mez, e que se tirasse copia desta acta, e que fosse enviada a Exª comissão admenistrativa de Tondela a fim de ser aprovada a mudansa de dia do referido mercado de domingo treceiro para o dia desenove. Não havendo nada mais a tractar foi encerrada a sessão em nome da lei enserrando-se digo lavrandro-se esta acta que vai ser assinada por todos depois de lida por mim Antonio Emílio d'Almeida secretario que a escrevi e assino.
O presidente João Martins de Almeida
Vogal José Luiz da paz
Vogal Manoel Femandes Firme
secretario Antonio Emilio d'Almeida
Extraído de: Pereira. J.V.(1988), p.569

A data de dezanove não era inocente. A feira realizava-se nesta data para que os comerciantes de gado tivessem tempo para levarem os animais comprados a uma outra feira que se realizava para a zona de Coimbra no dia vinte e três de cada mês, chamava-se a “Feira dos vinte e três”. Os comerciantes compravam gado na feira de São João, com a condição de os vendedores levarem os animais à povoação de Almofala. Depois do gado todo reunido nesta aldeia, era levado para a Feira dos Vinte e três. Nesta famosa feira, apareciam os grandes comerciantes de gado que transportavam os animais comprados de comboio para Lisboa, Porto … O gado para fazer a viagem de Almofala até Coimbra tinha que estar preparado, as suas patas teriam que ter calo suficiente para aguentarem a caminhada.
A realização da feira de São João nesta data (dezanove), manteve-se até 1992. Neste ano, voltou a ser mudada novamente para o terceiro Domingo de cada mês, talvez porque começou a entrar um pouco em declínio, fruto de alterações das ocupações profissionais das populações.

Pedro Pereira
Plsp@sapo.
Publicado em "Jornal de Tondela" - nº 775- 23 de Fevereiro de 2006