About Me

Este blog, amador, foi criado com o intuito de divulgar atividades e acontecimentos relevantes da Serra do Caramulo, bem como o seu património! Fornece, também, informações importantes para quem pretende visitar e conhecer a região! "Viaje" pela Serra (des)conhecida, explorando os seus conteúdos!

Batem leve, levemente

    Hoje, vinte de Janeiro de 2009, a Serra do Caramulo acordou, mais uma vez, coberta por um manto branco. As previsões do instituto de meteorologia de Portugal, confirmaram-se: “Queda de neve nos locais acima dos 500 metros, subindo a cota para os 800 a 1000 metros, durante a manhã”. Sem entrar em grandes explicações técnicas, podemos dizer que a neve é um fenómeno meteorológico que consiste na queda leve, moderada ou forte de cristais de gelo. O sítio da protecção civil (http://www.proteccaocivil.pt/), apresenta uma explicação mais detalhada: “ a queda de neve ocorre quando os cristais de gelo não se fundem antes de chegarem ao solo, em virtude da baixa temperatura da atmosfera. Quando a queda de neve se prolonga por um período de tempo relativamente longo e abrange uma área relativamente extensa estamos em presença de um nevão. Os nevões podem ter um forte impacto nos seres humanos, animais e plantas”.
    Não transitam automóveis, a estrada está muito perigosa. Existe sempre um outro incauto que gosta de desafiar o perigo, aventurando-se na estrada do Caramulo ao Caramulinho. A GNR faz patrulhamento, procurando evitar situações de viaturas atascadas.
    Várias são as pessoas das povoações mais serranas que não conseguem tirar os automóveis das garagens, vendo-se impossibilitadas de irem para os seus empregos.
    É inegável que o actual Inverno e o último Outono caracterizaram-se por um número elevado de ocorrências de queda de neve, contrariamente ao que tem acontecido em anos anteriores. Será um sintoma de anomalia climática, consequência do aquecimento global, ou apenas um fenómeno cíclico? A resposta carece de investigação científica, contudo, em três décadas de existência, não me recordo de algo semelhante. Vou continuar a estar atento às previsões meteorológicas e às vontades do São Pedro!
    Diversas são as descrições e poemas de cenários de neve, mas a Balada de neve de Augusto Gil, que várias vezes ouvi na infância, declamada de memória pelo meu pai, é sem dúvida um dos poemas que eu mais gosto de recordar nestes momentos. Não resisto em escrever, aqui, os primeiros versos:
Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho…
P.L.S.P.
Jornal de Tondela, Edição N.º 927 - 20/01/2009

A Rota do Mestre Garino

Mestre Garino
D. Afonso Henriques em 1131, concedeu carta de doação da vila de São João do Monte, a Mestre Garino, frade do Convento de Santa Cruz de Coimbra.
“Que a vila de São João do Monte vem de há mais de 900, talvez mais de mil anos, comprova o, entre outros documentos, a doação feita por D. Afonso Henriques, em 1131, quando ainda príncipe, a mestre Garino, frade do Convento de Santa Cruz de Coimbra, e que se encontra nos documentos da Chancelaria de D. Afonso Henriques…” César, J. & Figueiredo M. (1949).

A Rota
No Domingo de manhã, um grupo de amigos, procurando descobrir um pouco mais sobre Mestre Garino, realizou uma caminhada até ao local onde existem vestígios da sua habitação. A saída do largo da feira, junto aos bombeiros, aconteceu por volta das 9h00. Durante o percurso observaram-se inúmeros aspectos de ordem humana e natural (flora, fauna, vistas panorâmicas, alminhas, rochedos …). A carta militar 1/25 000, número 187, foi uma preciosa fonte de informação. Tratou-se de um itinerário circular com cerca de 7km por caminhos e carreiros de montanha. Carlos Pereira, Nuno Monteiro, António Mota, Arménio Lomba, José Gonçalves, Pedro Pereira, Miguel Silva, Paulo Fernandes, Miguel Gomes e Márcio Silva, constituíram a lista dos participantes nesta caminhada.
Ouvimos falar desde a infância que mestre Garino terá vivido nesta zona, mais precisamente num lugar isolado e alcantilado, conhecido por Esturrenheira. Trata-se sem dúvida, de um espaço com características especiais, para quem quisesse levar uma vida de ermitão e dedicada ao culto divino. Alguns dos participantes já estiveram no local, no entanto, tiveram dificuldade na localização exacta das ruínas, devido a um denso e impenetrável matagal.

«Carta de Doação a Mestre Garino da Vila de S.joão (do Monte)»
«Em nome da Santa e individua Trindade, Padre, Filho e Espirito Santo, Trindade inseparável que nunca terá fim por todos os séculos dos séculos.
Eu, Afonso. egrégio infante, filho do Conde D. Henrique e da Rainha Teresa, e neto do gloriosissimo imperador das Espanhas por graça de Deus principe de todo o Condado Portucalense, com toda a paz e tranquilidade do meu espírito, e de livre e boa vontide, e em testemunho de benevolência para convosco, Mestre Garino, e vossos Irmãos (monacais), faço Carta (de doação) da vila de S. João (do Monte) com todos os seus termos como divide com Paranho e com Covelo e com Macieira e Besteiros, por onde corre o Rio Águeda. Isto faço de minha própria vontade pela minha alma e da de meu pai e de minha mãe para nossa eterna salvação.
E desde hoje para todo sempre seja (a vila de S. João) alienada do meu direito e em vosso domínio entregue e confirmado perpetuamente.
Feita esta Carta em 18 de Julho de 1131. Eu, Afonso, supra nominado, roboro esta Carta por minha própria mão. Ermigo Moniz-testifico. Hero de Bridi-testifico. Gonçalo Rodrigo-testifico. Serrasino de Espini-testifico. Nuno Soares-testifico. Fernando Cativo-testifico. Pedro notário a escrevi.»
Torre do Tombo- Col.esp. Parte II, Caixa 35, maço 3 (Cartório de S. Cruz). Extraído de: César, J. & Figueiredo M. (1949)- O Couto de Alcofra e São João do Monte. Tradução de Padre João Domingues de Arede.
Balanço
Esta caminhada permitiu aos participantes descobrir um pouco mais da história e do espaço da sua terra. Possibilitou também, bons momentos de convívio. Esperamos que este registo, constitua uma orientação na elaboração de um percurso pedestre, a começar pelo título. Está agendado para o próximo fim-de-semana outra caminhada, podendo aparecer todos aqueles que gostem deste tipo de actividades.

Pedro Pereira
plsp@sapo.pt
Publicado no Jornal de Tondela na Edição N.º 925 - 08/01/2009