About Me

Este blog, amador, foi criado com o intuito de divulgar atividades e acontecimentos relevantes da Serra do Caramulo, bem como o seu património! Fornece, também, informações importantes para quem pretende visitar e conhecer a região! "Viaje" pela Serra (des)conhecida, explorando os seus conteúdos!

I Passeio pedestre do GAC



O GAC (Grupo de Amigos do Caselho) organizou um passeio pedestre, em que participaram cerca de cinquenta pessoas. Este Grupo de Amigos, apesar de não estar oficialmente constituído como associação, conta já com um vasto currículo de actividade. No sábado, vinte e seis de Setembro, o passeio contou com a participação de pessoas de vários grupos etários. Foi objectivo deste evento proporcionar um momento de convívio e possibilitar também a descoberta de lendas e segredos destas paragens, a partir dos testemunhos das pessoas com mais idade. Maria Piedade Marques (87 anos), Lídia Pereira Fraga (84 anos), Celso Pereira (76 anos), Idalina Ferreira da Conceição (84 anos), foram os jovens contadores de histórias, tendo demonstrado grande capacidade de comunicação. “Narrar histórias é sempre a arte de as voltar a contar e essa arte perder-se-á se não se conservarem as histórias”. Alguns dos protagonistas referidos, foram transportados em veículo motorizado até ao local do almoço, designado de Lapa da Moura. Aqui, como previsto, aconteceu um agradável almoço, acompanhado com música de fundo, com auxílio de colunas alimentadas por um gerador portátil. Foi também possível um momento de confraternização saudável e ouvir histórias sobre este local e espaço envolvente. Era por estes paragens que noutros tempos, os nossos contadores de histórias guardavam o gado. Surgem muitos cabeços com nomes peculiares, tendo uma história associada à sua toponímica. Enumeramos de seguida aqueles que conseguimos registar: Cabeço das Igrejas, Cabeço da Caldeira, Cabeço do Alto do Corucho, Cabeço Conho da Feira, Cabeço do Vale d’água, Cabeço Rachado, Lapa da Moura, Cabeço da Lapa da Moura, Cabeço Rapó-fole, Cabeço da Erva. O Cabeço da Erva é um bloco granítico com algumas fracturas na parte superior, nas quais, crescem ervas com altura significativa. Noutros tempos, nessas frechas da rocha nidificavam aves de cor preta e branca. O Cabeço do Coruche, localizado nas proximidades do Coruche (marco geodésico de segunda ordem) apresenta uma forma aproximadamente esférica e com cerca de dez metros de diâmetro. Encontra-se ligeiramente alçado na parte inferior num dos lados. A propósito deste cabeço, a Dona Lídia de 84 anos, conta que uns tantos homens das povoações de Dornas e da Daires se juntaram naquele sítio para comerem um carneiro e beberem um odre de vinho. Depois de saciada a fome, decidiram com grande arrojo, fazer rebolar o cabeço pela encosta abaixo (de facto, o homem sempre gostou de desafiar a natureza…). Colocaram calhaus na parte inferior do cabeço e com auxílio de pancas de madeira tentaram fazer rolar o colossal bloco de granito, mas apesar da grande determinação, o esforço foi inglório. Podemos verificar ainda hoje, a existência de calhaus soltos colocados por baixo do cabeço que ajudam a atestar a veracidade da história. A ambição desmedida não é grande virtude!! A Lapa da Moura está associada à lenda mais misteriosa destas paragens. A narração foi feita na primeira pessoa pela Dona Idalina Conceição de 84 anos. Procuramos transcrevê-la para o papel, o mais próximo possível do seu testemunho oral. «Noutros tempos, quando se tocavam por aqui os gados, uma vaca ficou para trás e não chegou ao curral no fim do dia. O proprietário, morador no Caselho, terá pensado que a vaca como estava prenha tivesse ficado para trás para ter a cria. Como já era noite, decidiu ir ao outro dia (dia da festa de S. João Baptista) à procura do animal». O dia da festa de São João Baptista marca a data do solstício de Verão, sendo a sua referência, talvez a memória de algum culto solar pagão. «Como tinha planeado, levantou-se ao alvorecer e lá foi pelo monte fora. Ao chegar ao sítio da lapa da moura viu uma senhora a pentear o cabelo. Diz que era um cabelo lindo. E ele dissera: - Ai que lindo cabelo! A moura tinha ao seu lado umas tesouras de ouro e terá perguntado: - São mais lindas as tesouras ou o meu cabelo? A resposta foi a seguinte: - O cabelo é lindo, mas as tesouras são ainda mais lindas. O homem levou as tesouras de ouro, com a maior alegria da vida e também a vaca com a cria. Quando chegou junto da povoação, no local da aveleira….» Nesta altura da narrativa, alguém terá questionado: Mas era um ou uma? Curiosamente, nesta lenda, o protagonista era um homem bem real como veremos de seguida. «Era um senhor da família da Ti Maria da Caridade, ou era avô ou bisavô. Eram os antigos que contavam e eu lembra-me... Então, como eu estava a contar, o homem quando chegou junto da povoação do Caselho, no local da aveleira, olhou para a mão e as tesouras transformaram-se em carvão. Mas se ele tivesse escolhido o cabelo, já não vinha de lá, porque ficava encantado pela moura». Esta narrativa fantasiosa transmitida pela tradição oral através dos tempos, torna-se interessante pelo seu carácter fantástico e fictício e pela combinação de factos reais com factos irreais, muitos deles, produto da imaginação humana. Outras histórias foram contadas e registadas, no entanto, por serem demasiado extensas, não o faremos neste momento. Confraternização, convívio e perpetuação do património cultural, fins subjacentes à actividade, foram atingidos em pleno. A motivação e empenho deste Grupo de Amigos (GAC) constituíram os ingredientes do sucesso desta actividade. Aguardamos, para breve, um novo passeio!!

Ciência Viva 2009: À Descoberta de Ambientes Ripícolas na Freguesia de S. João do Monte - 29-08-09

Em 29 de Agosto de 2009, vai decorrer pela 2ª vez, uma acção da Ciência Viva na freguesia de São João do Monte.
Título: À Descoberta de Ambientes Ripícolas na Freguesia de S. João do Monte
(Quercus - Núcleo de Vila Real e Viseu)
Data: 29 de Agosto às 09:30 Inscrição Obrigatória (16 vagas)
Descrição: Percurso numa zona de linha de água de montanha: a Serra do Caramulo. Ao longo do percurso observamos e interpretamos aspectos biológicos, geológicos, paisagísticos e patrimoniais relacionados com os Rios Águeda e Mançores.
Ponto de encontro: Pelorinho de S. João do Monte
Como Chegar: Tondela até S. João do Monte ou Caramulo até S. João do Monte
Idade Mínima: 12 anos
Localidade: S. João do Monte / TONDELA / VISEU
Itinerário: Praia fluvial de S. João do Monte-Batoco-Poço Mertangil-Penha da Firma
Número de participantes: 20
Duração: 8 h
Transporte: assegurado a partir do local de encontro
Responsável pela acção: João Carlos C. V. Baptista
Inscrições e mais informações em: http://www.cienciaviva.pt
Notas: Levar comida e água, roupa, chapéu e calçado apropriados. Levar fato de banho e toalha
Informações retiradas de: http://www.cienciaviva.pt/veraocv/biologia/bio2009/
29 de Agosto de 2009
1. Apresentação do tema
Um curso de água constitui uma singularidade ambiental e paisagística dentro das características biogeográficas gerais da área onde se encontra. A maior disponibilidade hídrica e o ambiente mais fresco e sombrio determinam a ocorrência de espécies melhor adaptadas a estas condições. A vegetação que se desenvolve nestas condições chama-se galeria ripícola. A galeria ripícola também é um local que atrai diferentes espécies de aves que aqui encontram protecção, alimento e condições de nidificação.
A composição florística, a estrutura e a disposição destas zonas são determinada principalmente por factores hidrológicos, pelo clima, pelo relevo e por características do solo. De uma forma geral, os ecossistemas ripícolas caracterizam-se por possuírem uma maior diversidade estrutural e específica do que as comunidades vegetais das áreas envolventes.
As zonas ripícolas são importantes para muitos animais que nelas procuram refúgio, diversidade de habitat e abundância de água, ou que as usam como corredor migratório. No próprio curso de água, como resultado da alternância entre zonas não ensombradas e zonas de sombra (proporcionada pelas copas das árvores e arbustos de maior dimensão), os diferentes organismos aquáticos deslocam-se para os locais que apresentam temperaturas mais favoráveis ao seu desenvolvimento. A sombra impede que a temperatura da água seja muito elevada, o que influencia positivamente a quantidade de oxigénio dissolvido, condicionando ainda a fixação no leito de plantas aquáticas intolerantes à sombra, que estão geralmente ausentes ou pouco representadas nos troços ensombrados.
2. Localização
Os locais a visitar neste programa Ciência Viva no Verão 2008, financiado pela Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica, localizam-se na área da freguesia de São João do Monte, concelho de Tondela, distrito de Viseu. A Nordeste confina com o concelho de Oliveira de Frades do mesmo distrito, a Noroeste e a Oeste com concelho de Águeda do distrito de Aveiro, a Sul com a freguesia do Mosteirinho do mesmo concelho e a sudeste com a freguesia do Guardão também do concelho de Tondela.
Toda a área da freguesia (4 814 ha) encontra-se situada na vertente ocidental da Serra do Caramulo. “Com 30 km de comprimento e 1074 m de altitude, a serra do Caramulo constitui uma nítida muralha divisória entre a Beira Litoral e a Beira Alta. A sua disposição é nor-nordeste/su-sudoeste. A sua vertente oriental, imponente escarpa de falha que chega a ter 800 m de altura, sublinha a passagem do ocidente tardi-hercínico Verin-Penacova. A vertente ocidental é menos declivosa e desce progressivamente até à plataforma litoral por um degrau que não ultrapassa os 300 m de altura”. Enciclopédia Geográfica – Selecções do Reader's Digest
3. Hidrografia da freguesia
O rio Águeda e a ribeira de Dornas ou ribeira do Teixo ou ribeira do Souto (designações da carta militar nº187) ou rio de Mançores (designação também atribuída a esta linha de água pelas pessoas da zona) são os dois cursos de água mais importantes da freguesia. Os cursos de água apresentam um encaixe nítido correndo em vales. Toda a freguesia é recortada por imensas linhas de água que correm predominantemente de SE para NO à excepção dos afluentes do rio Águeda que correm na direcção N/S (margem direita) e S/N (margem esquerda). Estes cursos estão associados a uma intensa fracturação e a uma forte escorrência facilitada pela precipitação abundante e pelos declives das vertentes. É neste ambiente hidrográfico que iremos descobrir/explorar alguns dos maravilhosos ambientes ripícolas da freguesia, que nos transmitirão, com toda a certeza, um forte cheiro selvagem. Ficamos com a certeza de que muito há para explorar e descobrir na freguesia de são João do Monte relativamente ao tema, no entanto, fica o desejo de em próximas actividades da Ciência Viva o podermos fazer.
4. Itinerário
4.1.Concentração na Vila de São João do Monte junto ao Pelourinho
Os participantes concentrar-se-ão junto ao Pelourinho e a casa da Câmara (cadeia), localizados no alargo do antigo Concelho. Foi vila e sede de concelho até 1855. Nesse ano, com a reforma de Frederico Guilherme da Silva Pereira e Rodrigo da Fonseca Magalhães o Concelho de São João do Monte foi extinto, passando para Tondela todas as suas freguesias, excepto as de Alcofra, Arca e Varzielas. Em 1997 recuperou o seu título de Vila. A vila de São João é a sede de freguesia e para além deste aglomerado existem mais dezoito povoados, dois deles sem habitantes.
4.2. Percurso Pedestre: Vale da Broa- Chão da Ribeira- Batoco- Solheira- Açor (margens do rio Águeda)
Um percurso de cerca de 3,5 Km, nas margens e leito do rio Águeda, onde se poderão observar aspectos biológicos, geológicos, paisagísticos e patrimoniais. O lugar mais longínquo do ponto de partida chama-se Batoco. Aqui, relativamente próximo da nascente, o curso de água começa a “ganhar algum caudal”, justificando-se, com toda a legitimidade, a designação de Rio Águeda.
Ao nível biológico salientamos algumas das espécies vegetais da galeria ripícola, nomeadamente: salgueiro, amieiro, junco, zangarinho, hortelã d’água …
Ao nível biológico salientamos algumas das espécies vegetais da galeria ripícola, nomeadamente: salgueiro, amieiro, junco, zangarinho, hortelã d’água …
 Ao nível biológico salientamos algumas das espécies vegetais da galeria ripícola, nomeadamente: salgueiro, amieiro, junco, zangarinho, hortelã d’água …
“ Salgueiro é o nome comum das plantas do género salix, família salicaceae. O nome de salix parece proceder do celta e quereria dizer: próximo da água. Tem sido utilizada, experimentalmente, para recuperar águas poluídas devido à sua capacidade para absorver e transformar poluentes em matéria orgânica.” Em Portugal, além do salgueiro branco, existem outras espécies de salgueiro nativas como o salgueiro-negro (salix atrocinerea, brot.). Os salgueiros são das árvores mais características da beira dos rios e dos seus ramos preparam-se os vimes que tanta importância tiveram tradicionalmente na cestaria”. (http://pt.wikipedia.org/wiki/%20salgueiro). O Amieiro (Alnus glutinosa), também conhecido por Alder, é uma árvore ripícola mediterrânea. A sua madeira resistente à água e de baixa densidade, é muito utilizada na construção de corpos de guitarras sólidas. O Amieiro tem como característica sonora um som mais aveludado com grave bastante profundo. O junco (juncos) é uma planta da família das juncáceas. Apresenta caules de cerca de um metro de altura, lisos, cilíndricos, flexíveis, pontiagudos, cor verde-escura por fora e esponjosos e brancos no interior… Cresce em lugares húmidos, próximo dos rios. “No livro dos Salmos, diz-se: «(…) Repreendeu o mar Vermelho e este se secou, e os fez caminhar pelos abismos, como pelo deserto». O mar não se chamava Vermelho no tempo dos acontecimentos bíblicos. Chamava-se (e é assim que consta do original) mar dos Juncos. NOGUEIRA, 2004. O zangarinho é um arbusto da família das Romnáceas, comum nas terras húmidas. Também conhecido por lagarinho, sanguinho, zangarinheiro e amieiro-negro. A hortelã d’água (Mentha aquática), é uma planta perene, de talos muito ramificados. As flores que aparecem entre Junho e Outubro são muito pequenas e formam uma cabeça rosa ou branca. Cheira a menta e encontra-se em lugares húmidos, rios, ribeiras, fontes e nas beiras de caminhos encharcados. Uma outra espécie que aparece com alguma frequência nas margens do rio, apesar de não ser propriamente ripícola é o gibardeiro. (Ruscus aculeatus L.). Trata-se de um arbusto vivaz, pouco vulgar, que aparece na zona da Europa mediterrânica, estando igualmente presente no Sudoeste da Ásia e no Norte de África. Mantêm-se verde durante todo o ano, apresentando um rizoma, caule subterrâneo, a partir do qual brotam vários caules rígidos e verdes, alcançando entre 10 a 150 cm de altura. O fruto é uma baga de cor vermelha viva com uma a quatro sementes. Dos seus ramos fazem-se vassouras para varrer ruas e limpar chaminés. As espécies descritas, apresentam-se em ambos os troços dos rios a visitar (Águeda e Mançores).
Ao nível do património histórico, destacam-se as poldras, representação zoomórfica e núcleo de sepulturas antropomórficas. Para se atingir as sepulturas ter-se-á de ultrapassar o rio Águeda numas pequenas poldras. As poldras são pedras espetadas em posição vertical no fundo do rio, alinhadas e distanciadas regularmente, para que as pessoas com o alcance de um passo firme e um certo equilíbrio consigam uma travessia em segurança. A representação zoomórfica surge num rochedo, nas proximidades do núcleo de sepulturas antropomórficas. A figura representa um quadrúpede com a cabeça em direcção à terra e a cauda formando uma ligeira espiral (CARVALHO, A., 1981). O núcleo de sepulturas antropomórficas de Valdasna encontra-se situado no Lugar de Açor, sendo constituído por quatro sepulturas antropomórficas e uma grande pia quadrangular escavada na rocha.
4.3. Almoço na mata
Na belíssima mata de São João do Monte predominam carvalhos que proporcionam refrescantes sombras nos meses de Verão. Recentemente foi alvo de uma intervenção que teve a preocupação de manter o equilíbrio entre o natural e o humanizado.
4.4. Praia Fluvial Paraíso
Quem visita esta praia, pode passear ao longo de um enorme manto verde, apreciando o canto dos pássaros e o correr das águas do rio Águeda. Tanta natureza e tanta serenidade são as razões que levam muitos visitantes a procurar este "Paraíso", especialmente, durante os meses de Verão. “ (…) Segundo a portaria, das 16 praias fluviais existentes no distrito, apenas a praia de Folgosa, em Castro Daire, e a praia fluvial de São João do Monte, em Tondela, reúnem as normas de segurança e de qualidade. A lista foi elaborada pelo Instituto da Água (INAG), em conjunto com as Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regionais (CCDR), ”. In Jornal do Centro, ed. 283, 17 de Agosto de 2007. Neste espaço, chamamos também atenção para a antiga ponte românica de cinco arcos que liga as duas metades da vila…
4.5. Mançores
A povoação de Mançores, encontra-se a 150m, sendo a localidade da freguesia com menor altitude. A dividir a aldeia passa o rio, que nesta zona é designado de rio de Mançores (afluente do Águeda). O rio descreve um meandro e surge um poço fluvial com uma profundidade considerável, designado pelos locais de Poço lagar. Aqui realizar-se-á um pequeno percurso junto ao rio, onde se pode observar a beleza paisagística, bem como, descobrir outras espécies ripícolas, para além das descritas anteriormente. Neste rio como no Águeda, destaca-se a riqueza piscícola: trutas, bordalos, enguias…
4.6. Queda de água no rio Águeda- Penha da Firme
O rio Águeda, nasce na Serra do Caramulo e muito se “entusiasma” a levar águas frescas ao Vouga, depois de receber águas do Alfusqueiro, junto de Bolfiar. Nesta zona o rio apresenta um encaixe nítido, correndo num vale apertado (vale em V). Este vale coincide com o contacto ente o granítico e o xistos, podendo o seu curso estar condicionado por falhas. Nas zonas de falha as rochas foram esmagadas e, por isso, a sua alteração química é mais pronunciada. Nestas faixas de falha as rochas são mais facilmente erodidas. As zonas de falha são na maior parte das vezes aproveitadas para a instalação e encaixe dos cursos de água. Por outro lado como o xisto é mais facilmente erodido que o granito e criam-se relevos por erosão diferencial, como é o caso da Penha da Firme.

Prova de peddy-paper

Numa iniciativa espontânea, Jorge Silva, Miguel Gomes e Márcio Silva organizaram um peddy-paper no passado Domingo, dia dezanove. Tratou-se de uma prova pedestre de orientação, que consistiu num percurso ao qual estavam associadas perguntas e tarefas correspondentes a diferentes pontos intermédios (ou postos).

Para além de se percorrer os vários postos assinalados, foi necessário uma abordagem a alguns moradores da povoação de Abóbada para obtenção de algumas respostas. Das várias questões/tarefas apresentadas, destacamos as seguintes: “O ponto 2 é certamente um dos locais mais elevados da Abóbada. Aí existe um arbusto raro. Qual o seu nome?” “Nas proximidades do ponto 1 existe uma rocha que certamente te despertou algum significado. Qual o seu significado?” “Queremos que nos digam o nome de 5 constituintes de um moinho de água, que participem no processo de moagem.” Despertou particular interesse o/a gibardeiro/gibardeira (Ruscus aculeatus L.), resposta correcta à primeira questão. Trata-se de um arbusto vivaz que aparece na zona da Europa mediterrânica, estando igualmente presente no Sudoeste da Ásia e no Norte de África. Mantêm-se verde durante todo o ano, apresentando um rizoma, caule subterrâneo, a partir do qual brotam vários caules rígidos e verdes, alcançando entre 10 a 150 cm de altura. O fruto é uma baga de cor vermelha viva com uma a quatro sementes. Ficamos também a saber que dos seus ramos fazem-se vassouras para varrer ruas e limpar chaminés.

Sobre o significado da palavra peddy-paper, em http://pt.wikipedia.org/wiki/Peddy-paper, encontram-se algumas curiosidades: “Peddy-paper é uma palavra criada utilizando elementos da língua inglesa, mas que é apenas compreensível em Portugal.(…) O peddy-paper é uma actividade lúdica geralmente ligada à aquisição de conhecimentos sobre um determinado tema ou local. (…) O termo rally-paper (ou rallye-paper), que terá chegado à língua portuguesa através do francês, ficou, em Portugal, associado exclusivamente a provas realizadas em veículo automóvel. O termo peddy-paper foi criado para a variante pedestre.”

Pelas 9h45m, no largo da capela da Nossa Senhora da Visitação, os participantes receberam um guião, do qual constavam as tarefas a realizar, e uma cópia da fotografia aérea da área, que possibilitou uma melhor orientação. Cada equipa demorou em média 1h e 40m a realizar a prova. Distribuídos por seis equipas, a prova contou com a participação de dezassete jovens: Catarina Gonçalves, Marisa Gonçalves, Inês Arêde, Sandra Loureiro, Jorge Gonçalves, Sandra Oliveira, José Fernando, Miguel Gomes, Chaves, Ricardo Oliveira, André Fernandes, Luís Antunes, Pedro Pereira, Paulo Carmo, Nuno, Paulo Fernandes e Sérgio Monteiro. Quatro equipas (B, C, D, E) acertaram quinze respostas, tendo a equipa E (Paulo Carmo e Pedro Pereira) realizado a prova em menos tempo. Para além do convívio e do contacto com a natureza, esta acção permitiu também a descoberta do património natural e humano.

A organização está de parabéns pela forma como dinamizou o evento. Jorge Silva, um dos organizadores, destacou a preciosa colaboração de Nuno Pereira na confecção do almoço e referiu que está a ser ponderada, para breve, a realização de outra actividade do género.

Pedro Luís S. Pereira geo.pedro@hotmail.com
Publicado no Jornal de Tondela. Edição nº 953 - 23/07/09

Caminhada na Natureza- Serra do Caramulo


O ISPAB (Instituto Superior de Paços de Brandão) realizou no dia 25 de Abril a V Caminhada na Natureza - Serra do Caramulo, com a participação de professores, alunos e funcionários desta Instituição. O evento contou com os seguintes apoios: Dr.ª Celeste Fraga, ex-docente do ISPAB; ADRC São João do Monte; Junta de Freguesia de São João do Monte; Museu do Caramulo; Grupo Coral e Instrumental da casa do Povo de Caparrosa; Câmara Municipal de Tondela.
Espera-se que este programa, constitua uma orientação/guia, para quem pretender visitar e conhecer melhor a Serra do Caramulo.
1. APRESENTAÇÃO
A paisagem da Serra do Caramulo é um monumento à natureza e o ar puro e saudável que ali se respira convida a encher os pulmões de ar limpo e fresco, que já foi em tempos idos, terapia para doentes de tuberculose. Trata-se de um lugar surpreendente, de vistas magníficas e de desafios estimulantes. A Serra do Caramulo é quase um lugar secreto e inóspito, mítico e encantador, de contrastes e mistura de cores e imagens entre cumes e vales, onde o ar puro e fresco combina com a paisagem verde, tranquila, deslumbrante e inesquecível, que a todos encanta, convidando à introspecção, oferecendo uma imensa paz de espírito e permitindo o reencontro com nós próprios.
As Vilas de São João do Monte e do Caramulo constituem duas portas de entrada na Serra do Caramulo, elevação de Portugal Continental com 1076m de altitude, que se situa na região de transição da Beira Alta para a Beira Litoral, pertencente ao Distrito de Viseu (Coordenadas GPS: São João do Monte – 40º, 35’ N e 8º, 14’ O; Caramulo – 40º, 34’ N e 8º, 10’ O).
2. INFORMAÇÕES ÚTEIS
Os percursos pedestres a realizar são de pequena rota, um circular e outro linear, por caminhos tradicionais e de montanha, reduzindo-se os asfaltados ao mínimo possível, com um nível de dificuldade médio e revestem-se de interesse patrimonial, cultural, ambiental, paisagístico e etnográfico.
Os participantes devem fazer-se acompanhar de pequena mochila com garrafas de água, fruta e muda de roupa (caso necessário).
Aconselha-se calçado e vestuário cómodos, adequados para passeio pedestre (preferencialmente de tipo desportivo e botas de montanha), calções de banho, creme protector solar e máquina fotográfica.
3. PROGRAMA
9h45 – Chegada prevista a São João do Monte
A vila de São João é a sede de freguesia e para além deste aglomerado existem mais dezoito povoados, dois deles sem habitantes. São João do Monte é uma freguesia do Concelho de Tondela, distrito de Viseu, com 48,41 Km2 de área e 1096 habitantes (dados de 2001), tendo sido vila e sede de Concelho até 1855. Em 1997 recuperou o seu título de vila.
10h00 – Início do percurso pedestre em São João do Monte. Duração prevista do percurso pedestre: 2h20m
13h00 – Almoço no Parque de Merendas da Mata de São João do Monte
15h00 – Visita aos museus de Arte e Automóveis do Caramulo (facultativa)
A paisagem agreste da montanha, o verde intenso do bosque, os prados de montanha, os montados graníticos, as águas cristalinas dos riachos, os moinhos de água e os elementos iconográficos de natureza religiosa caracterizam os percursos pedestres a realizar, de grande diversidade biológica, onde não faltará a oportunidade para viajar até ao passado, na vasta colecção de automóveis clássicos de grande valor histórico e de brinquedos que se encontram no Museu do Caramulo e conhecer a valiosa e variada colecção de arte que aí se encontra patente, integrada por escultura, ourivesaria, marfim, porcelanas, mobiliário, têxteis, cerâmica, vidros, esmaltes e pintura, desconhecida do grande público, onde se destacam obras de Pablo Picasso, Salvador Dali, Dufy Legér, jean Lurçat, Grão Vasco, Veira da Silva, Columbano, Silva Porto e Amadeo Sousa Cardoso, a fazer deste museu um dos mais importantes da Península Ibérica.
16h20 – Fim previsto da visita ao Museu do Caramulo
16h30 – Penedo do equilíbrio, junto à povoação de Pedrógão
Trata-se de um bloco granítico semi-arredondado que se encontra sobre outro, apresentando um fabuloso aspecto de precário equilíbrio.
16h40 – Início do percurso pedestre do Caramulinho, junto ao Teixo (Taxus baccata). Duração prevista do percurso pedestre do Caramulinho: 1:00 h
Teixo (Taxus baccata)
O teixo é uma espécie gimnospérmica pertencente à família Taxaceae. Esta família é formada por árvores e arbustos de folha perene. A população do teixo tem vindo a diminuir nos últimos 4000 anos e actualmente está catalogada como espécie rara e ameaçada de extinção, principalmente na Península Ibérica, na Noruega …
Caminhada
Um percurso linear com cerca de 2 km até ao Caramulinho. Chama-se a atenção para a observação dos rochedos, que na imaginação de cada um, toma diversos significados. Conforme o ângulo que são vistos, assemelham-se a figuras geométricas, zoomórficas... Adjectivos para a sua beleza, ficam ao critério de cada um…
Caramulinho
O cabeço do Caramulinho é um excelente miradouro e constitui o ponto com maior altitude da Serra (1076m de altitude). Apresenta uma área aplanada junto à base e o seu pico descarnado deve-se a processos de erosão.
17h50 – Pedra do cabeço de cão (snoppy)
A meteorização física e química das rochas está condicionada pelas características intrínsecas à própria rocha (composição mineralógica, textura e porosidade), pelas descontinuidades da rocha (falhas e diaclases), instalação de seres vivos vegetais e animais e pelo clima, o que origina formas dispares, assemelhando-se a figuras humanas e de animais, como é o caso da pedra do cabeço cão, também conhecida por snoppy.
17h55 – Viagem até São João do Monte, passando por aldeias serranas
O granito era o esteio da arquitectura rude e simples das aldeias serranas. “Recentemente” outros materiais subiram a serra e novas construções surgiram na paisagem, algumas delas, denotando perda de identidade com o meio que as rodeia. No entanto, ainda são bem visíveis, inúmeras “velhas” casas que resistem como fortalezas.
18h00 – Convívio musical na Mata de São João do Monte com actuação do Grupo Coral e Instrumental da Casa do Povo de Caparrosa
Terminaremos a V Caminhada na Natureza ISPAB 2009 a cantar com o Grupo Coral e Instrumental da Casa do Povo de Caparrosa pois, “quem canta, seus males espanta”.
O Grupo Coral e Instrumental da Casa do Povo de Caparrosa (freguesia situada na vertente oriental da Serra do Caramulo, que integra as povoações de Caparrosa, Caparrosinha, Paranho de besteiros e Souto Bom) foi criado em 1980 e teve, desde logo, uma forte implantação na comunidade da qual emergiu. Concluídos 28 anos de existência, o grupo conta já com vários CD´s editados, encontrando-se já a trabalhar num novo disco que espera lançar durante o decurso de 2009. “Ao Luar” é considerado o seu trabalho mais representativo, trazendo “ecos de amor envolvidos em Luar” – “…Que lindo brilho tem o luar, que lindos olhos tens para amar…” “Os teus olhos moreninhos, que eu gosto de admirar, enchem os meus de carinhos, quando te vejo ao luar.” As raízes musicais do Grupo Coral e Instrumental da Casa do Povo de Caparrosa remontam há algumas gerações, estando a sua orientação musical influenciada por “anteriores tunas existentes e que animavam as festas e danças da freguesia e localidades limítrofes”. Por esse motivo, toda a sua sonoridade musical se baseia em instrumentos de cordas então utilizados.
Ao longo dos seus anos de existência, este grupo tem privilegiado a música tradicional com base em recolha de temas antigos, mantendo-se fiel à música etnográfica, e tem-se constituído como “bandeira” da região a que pertence, com inúmeras e valiosas actuações no país e no estrangeiro.
Textos de: Pedro Luís S. Pereira & José Manuel Carmo da Silva

Batem leve, levemente

    Hoje, vinte de Janeiro de 2009, a Serra do Caramulo acordou, mais uma vez, coberta por um manto branco. As previsões do instituto de meteorologia de Portugal, confirmaram-se: “Queda de neve nos locais acima dos 500 metros, subindo a cota para os 800 a 1000 metros, durante a manhã”. Sem entrar em grandes explicações técnicas, podemos dizer que a neve é um fenómeno meteorológico que consiste na queda leve, moderada ou forte de cristais de gelo. O sítio da protecção civil (http://www.proteccaocivil.pt/), apresenta uma explicação mais detalhada: “ a queda de neve ocorre quando os cristais de gelo não se fundem antes de chegarem ao solo, em virtude da baixa temperatura da atmosfera. Quando a queda de neve se prolonga por um período de tempo relativamente longo e abrange uma área relativamente extensa estamos em presença de um nevão. Os nevões podem ter um forte impacto nos seres humanos, animais e plantas”.
    Não transitam automóveis, a estrada está muito perigosa. Existe sempre um outro incauto que gosta de desafiar o perigo, aventurando-se na estrada do Caramulo ao Caramulinho. A GNR faz patrulhamento, procurando evitar situações de viaturas atascadas.
    Várias são as pessoas das povoações mais serranas que não conseguem tirar os automóveis das garagens, vendo-se impossibilitadas de irem para os seus empregos.
    É inegável que o actual Inverno e o último Outono caracterizaram-se por um número elevado de ocorrências de queda de neve, contrariamente ao que tem acontecido em anos anteriores. Será um sintoma de anomalia climática, consequência do aquecimento global, ou apenas um fenómeno cíclico? A resposta carece de investigação científica, contudo, em três décadas de existência, não me recordo de algo semelhante. Vou continuar a estar atento às previsões meteorológicas e às vontades do São Pedro!
    Diversas são as descrições e poemas de cenários de neve, mas a Balada de neve de Augusto Gil, que várias vezes ouvi na infância, declamada de memória pelo meu pai, é sem dúvida um dos poemas que eu mais gosto de recordar nestes momentos. Não resisto em escrever, aqui, os primeiros versos:
Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho…
P.L.S.P.
Jornal de Tondela, Edição N.º 927 - 20/01/2009

A Rota do Mestre Garino

Mestre Garino
D. Afonso Henriques em 1131, concedeu carta de doação da vila de São João do Monte, a Mestre Garino, frade do Convento de Santa Cruz de Coimbra.
“Que a vila de São João do Monte vem de há mais de 900, talvez mais de mil anos, comprova o, entre outros documentos, a doação feita por D. Afonso Henriques, em 1131, quando ainda príncipe, a mestre Garino, frade do Convento de Santa Cruz de Coimbra, e que se encontra nos documentos da Chancelaria de D. Afonso Henriques…” César, J. & Figueiredo M. (1949).

A Rota
No Domingo de manhã, um grupo de amigos, procurando descobrir um pouco mais sobre Mestre Garino, realizou uma caminhada até ao local onde existem vestígios da sua habitação. A saída do largo da feira, junto aos bombeiros, aconteceu por volta das 9h00. Durante o percurso observaram-se inúmeros aspectos de ordem humana e natural (flora, fauna, vistas panorâmicas, alminhas, rochedos …). A carta militar 1/25 000, número 187, foi uma preciosa fonte de informação. Tratou-se de um itinerário circular com cerca de 7km por caminhos e carreiros de montanha. Carlos Pereira, Nuno Monteiro, António Mota, Arménio Lomba, José Gonçalves, Pedro Pereira, Miguel Silva, Paulo Fernandes, Miguel Gomes e Márcio Silva, constituíram a lista dos participantes nesta caminhada.
Ouvimos falar desde a infância que mestre Garino terá vivido nesta zona, mais precisamente num lugar isolado e alcantilado, conhecido por Esturrenheira. Trata-se sem dúvida, de um espaço com características especiais, para quem quisesse levar uma vida de ermitão e dedicada ao culto divino. Alguns dos participantes já estiveram no local, no entanto, tiveram dificuldade na localização exacta das ruínas, devido a um denso e impenetrável matagal.

«Carta de Doação a Mestre Garino da Vila de S.joão (do Monte)»
«Em nome da Santa e individua Trindade, Padre, Filho e Espirito Santo, Trindade inseparável que nunca terá fim por todos os séculos dos séculos.
Eu, Afonso. egrégio infante, filho do Conde D. Henrique e da Rainha Teresa, e neto do gloriosissimo imperador das Espanhas por graça de Deus principe de todo o Condado Portucalense, com toda a paz e tranquilidade do meu espírito, e de livre e boa vontide, e em testemunho de benevolência para convosco, Mestre Garino, e vossos Irmãos (monacais), faço Carta (de doação) da vila de S. João (do Monte) com todos os seus termos como divide com Paranho e com Covelo e com Macieira e Besteiros, por onde corre o Rio Águeda. Isto faço de minha própria vontade pela minha alma e da de meu pai e de minha mãe para nossa eterna salvação.
E desde hoje para todo sempre seja (a vila de S. João) alienada do meu direito e em vosso domínio entregue e confirmado perpetuamente.
Feita esta Carta em 18 de Julho de 1131. Eu, Afonso, supra nominado, roboro esta Carta por minha própria mão. Ermigo Moniz-testifico. Hero de Bridi-testifico. Gonçalo Rodrigo-testifico. Serrasino de Espini-testifico. Nuno Soares-testifico. Fernando Cativo-testifico. Pedro notário a escrevi.»
Torre do Tombo- Col.esp. Parte II, Caixa 35, maço 3 (Cartório de S. Cruz). Extraído de: César, J. & Figueiredo M. (1949)- O Couto de Alcofra e São João do Monte. Tradução de Padre João Domingues de Arede.
Balanço
Esta caminhada permitiu aos participantes descobrir um pouco mais da história e do espaço da sua terra. Possibilitou também, bons momentos de convívio. Esperamos que este registo, constitua uma orientação na elaboração de um percurso pedestre, a começar pelo título. Está agendado para o próximo fim-de-semana outra caminhada, podendo aparecer todos aqueles que gostem deste tipo de actividades.

Pedro Pereira
plsp@sapo.pt
Publicado no Jornal de Tondela na Edição N.º 925 - 08/01/2009