“A pandemia, que nos forçou ao confinamento, não nos
deixou, nem deixa mais este ano, cumprir a promessa dos nossos antepassados –
ir, em dia de Ascensão, agradecer e suplicar à Senhora do Guardão, a Senhora do
Milagres, a proteção que, como então, também necessitamos…
Esperamos que no próximo ano, em 2022, seja possível
retomar e cumprir com redobrado empenho e solenidade esta festa secular,
autêntico tesouro do nosso concelho e de todo o território da Serra do
Caramulo.
Para que a Festa das Cruzes/Ascensão não seja
esquecida neste ano, que se comemora a 13 de maio, partilhamos o vídeo e um
excerto da notícia publicada pela folha de Tondela, em maio de 1969:
«Em Quinta-Feira da Ascensão, …, concentram-se ali as
freguesias de Santiago, Santa Eulália, agora Campo de Besteiros, e Castelões,
logo de manhã, em sítios diferentes, como que a tomar posição de guerra. À hora
marcada (10h.) de pendões a drapejar, cruzes engalanadas com grinaldas e muito
ouro e os primeiros frutos da terra, por entre o dialogar cantado das
ladainhas, atravessam, em triunfo, todo o monte de S. Bartolomeu, até ao
Cruzeiro no extremo sudoeste. Dali, como de varandim majestoso, descortina-se
um trecho empolgante do Vale de Besteiros, enfeitado com seus laranjais,
salpicados com as lantejoulas douradas dos seus frutos. Os sinos da Igreja de
Castelões repicam festivamente e, pela quebrada da serra, desce súplica de uma
freguesia inteira que, de joelhos, invoca o Padroeiro de Castelões: “SALVADOR
DO MUNDO, OLHAI POR NÓS!” Todos se erguem e desfilam agora, garbosa e
religiosamente, por entre o povo das outras freguesias (até à igreja matriz) …
O Guardão está atento. A um sinal dado no sino, qual
toque de clarim, saem também os pendões e cruzes, festivamente engalanados com
o ouro de toda a serra, …, ao encontro da 1.ª procissão, ou seja a de Santiago,
não para medir forças, mas para se abraçarem. E abraçam mesmo. Os cruciferários
e porta-bandeiras e lanternins, ajoelham nas lajes da calçada romana e
levemente, tocam suas cruzes. É o grande momento! Não raro há lágrimas nos
olhos dos assistentes. Aquele gesto é o milenário abraço da promessa feita
pelos antepassados que, a seguir à vitória, correram à Igreja a agradecer a
Deus e, pelo caminho, abraçavam a todos os que encontravam. E para não
esquecerem tal feito, prometeram vir todos os anos dar o abraço da unidade, da
fraternidade, da alegria, da paz e do amor e agradecer a Deus.» “
Texto (Luís Costa) e vídeo extraídos de: https://www.facebook.com/CEISCaramulo