Como já demos conta na última edição deste Jornal, uma área de 10 km2 de vegetação foi completamente destruída em consequência de condições meteorológicas adversas, ventos fortes e queda de neve, que se fizeram sentir na Serra do Caramulo durante a manhã do dia quinze de Fevereiro. A área afectada atingiu três freguesias (São João do Monte, Paranho de Arca e Alcofra). A destruição da vegetação é brutal, árvores de pequeno e médio porte, (em maior percentagem pinheiros, mas também eucaliptos) foram partidas e/ou derrubadas. Curiosamente, noutros locais de maior altitude da Serra, onde ocorreu maior precipitação de neve, não se assistiu a esta destruição.
O Sr. António Correia e a sua esposa Maria Gonçalves Pereira, residentes na povoação de Valdasna, referem que entre as sete e as dez horas da manhã terá ocorrido o “misterioso” fenómeno. No período referido, ouviram com muita frequência, o som das árvores a partir ou a derrubar. Apesar de concordarem com a existência de ventos mais fortes noutras ocasiões, ambos admitem poder ter havido uma forma muito própria de deslocação do vento que associado ao peso da neve sobre as árvores, poderá explicar a catástrofe. Constata-se que a forte destruição foi concentrada num corredor de dez quilómetros de comprimento por 1000 metros de largura (em média), o que permite admitir a hipótese de ter existido um tornado de pequena escala, designado por alguns de mini-tornado. De facto, é frequente um tornado arrasar completamente uma casa e deixar intacta a casa ao lado porque a acção deste fenómeno é concentrada. Esta circunstância faz dos tornados os mais violentos fenómenos atmosféricos e os mais destruidores numa área pequena. A hipótese de ter ocorrido um mini-tornado poderá ser corroborada pelo facto de as árvores se encontrarem derrubadas e partidas em várias direcções, evidenciando um eventual movimento turbilhonar do vento. O corredor de destruição apresenta uma orientação aproximada de Nordeste-Sudoeste, podendo ter sido o sentido de deslocação do referido fenómeno meteorológico. Felizmente nenhum aglomerado populacional foi afectado. Um tornado é caracterizado por ventos rodopiantes muito fortes, podendo atingir, em situações extremas, velocidades da ordem dos 300 Km/h . Alguns duram apenas pouco segundos, enquanto outros se prolongam por mais de uma hora. Uma vez que os mini-tornados são fenómenos de micro escala, a probabilidade de serem observados numa estação meteorológica é pequena, por isso o registo da sua ocorrência, fica muitas das vezes, limitado à descrição das populações, ao rasto de destruição, aos registos escritos e audiovisuais. De salientar que no mundo, os fenómenos climáticos extremos, triplicaram nos últimos cinquenta anos, transformando-se em catástrofes naturais com muitas vítimas e prejuízos. Na opinião de alguns investigadores estes mini-tornados também aconteceram no passado em Portugal, mas nos últimos anos o fenómeno intensificou-se, provavelmente devido ao aquecimento do planeta e às consequentes alterações climáticas.
O Sr. António Correia destacou ainda que para além da destruição massiva das árvores em algumas propriedades, as despesas de limpeza e reflorestação, agravam os prejuízos. Referiu que ao longo dos 10 km, a maior percentagem de árvores destruídas foram pinheiros bravos e lamentou com tristeza a perda completa de um pinhal com nove anos de idade. Espera-se que as entidades competentes sejam sensíveis a esta catástrofe e que tomem medidas com vista a auxiliarem os proprietários florestais a minimizarem os avultados prejuízos. P.L.S.P. Publicado Jornal de Tondela, edição nº 985.
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