O GAC (Grupo de Amigos do Caselho) organizou um passeio pedestre, em que participaram cerca de cinquenta pessoas. Este Grupo de Amigos, apesar de não estar oficialmente constituído como associação, conta já com um vasto currículo de actividade. No sábado, vinte e seis de Setembro, o passeio contou com a participação de pessoas de vários grupos etários. Foi objectivo deste evento proporcionar um momento de convívio e possibilitar também a descoberta de lendas e segredos destas paragens, a partir dos testemunhos das pessoas com mais idade. Maria Piedade Marques (87 anos), Lídia Pereira Fraga (84 anos), Celso Pereira (76 anos), Idalina Ferreira da Conceição (84 anos), foram os jovens contadores de histórias, tendo demonstrado grande capacidade de comunicação. “Narrar histórias é sempre a arte de as voltar a contar e essa arte perder-se-á se não se conservarem as histórias”. Alguns dos protagonistas referidos, foram transportados em veículo motorizado até ao local do almoço, designado de Lapa da Moura. Aqui, como previsto, aconteceu um agradável almoço, acompanhado com música de fundo, com auxílio de colunas alimentadas por um gerador portátil. Foi também possível um momento de confraternização saudável e ouvir histórias sobre este local e espaço envolvente. Era por estes paragens que noutros tempos, os nossos contadores de histórias guardavam o gado. Surgem muitos cabeços com nomes peculiares, tendo uma história associada à sua toponímica. Enumeramos de seguida aqueles que conseguimos registar: Cabeço das Igrejas, Cabeço da Caldeira, Cabeço do Alto do Corucho, Cabeço Conho da Feira, Cabeço do Vale d’água, Cabeço Rachado, Lapa da Moura, Cabeço da Lapa da Moura, Cabeço Rapó-fole, Cabeço da Erva. O Cabeço da Erva é um bloco granítico com algumas fracturas na parte superior, nas quais, crescem ervas com altura significativa. Noutros tempos, nessas frechas da rocha nidificavam aves de cor preta e branca. O Cabeço do Coruche, localizado nas proximidades do Coruche (marco geodésico de segunda ordem) apresenta uma forma aproximadamente esférica e com cerca de dez metros de diâmetro. Encontra-se ligeiramente alçado na parte inferior num dos lados. A propósito deste cabeço, a Dona Lídia de 84 anos, conta que uns tantos homens das povoações de Dornas e da Daires se juntaram naquele sítio para comerem um carneiro e beberem um odre de vinho. Depois de saciada a fome, decidiram com grande arrojo, fazer rebolar o cabeço pela encosta abaixo (de facto, o homem sempre gostou de desafiar a natureza…). Colocaram calhaus na parte inferior do cabeço e com auxílio de pancas de madeira tentaram fazer rolar o colossal bloco de granito, mas apesar da grande determinação, o esforço foi inglório. Podemos verificar ainda hoje, a existência de calhaus soltos colocados por baixo do cabeço que ajudam a atestar a veracidade da história. A ambição desmedida não é grande virtude!! A Lapa da Moura está associada à lenda mais misteriosa destas paragens. A narração foi feita na primeira pessoa pela Dona Idalina Conceição de 84 anos. Procuramos transcrevê-la para o papel, o mais próximo possível do seu testemunho oral. «Noutros tempos, quando se tocavam por aqui os gados, uma vaca ficou para trás e não chegou ao curral no fim do dia. O proprietário, morador no Caselho, terá pensado que a vaca como estava prenha tivesse ficado para trás para ter a cria. Como já era noite, decidiu ir ao outro dia (dia da festa de S. João Baptista) à procura do animal». O dia da festa de São João Baptista marca a data do solstício de Verão, sendo a sua referência, talvez a memória de algum culto solar pagão. «Como tinha planeado, levantou-se ao alvorecer e lá foi pelo monte fora. Ao chegar ao sítio da lapa da moura viu uma senhora a pentear o cabelo. Diz que era um cabelo lindo. E ele dissera: - Ai que lindo cabelo! A moura tinha ao seu lado umas tesouras de ouro e terá perguntado: - São mais lindas as tesouras ou o meu cabelo? A resposta foi a seguinte: - O cabelo é lindo, mas as tesouras são ainda mais lindas. O homem levou as tesouras de ouro, com a maior alegria da vida e também a vaca com a cria. Quando chegou junto da povoação, no local da aveleira….» Nesta altura da narrativa, alguém terá questionado: Mas era um ou uma? Curiosamente, nesta lenda, o protagonista era um homem bem real como veremos de seguida. «Era um senhor da família da Ti Maria da Caridade, ou era avô ou bisavô. Eram os antigos que contavam e eu lembra-me... Então, como eu estava a contar, o homem quando chegou junto da povoação do Caselho, no local da aveleira, olhou para a mão e as tesouras transformaram-se em carvão. Mas se ele tivesse escolhido o cabelo, já não vinha de lá, porque ficava encantado pela moura». Esta narrativa fantasiosa transmitida pela tradição oral através dos tempos, torna-se interessante pelo seu carácter fantástico e fictício e pela combinação de factos reais com factos irreais, muitos deles, produto da imaginação humana. Outras histórias foram contadas e registadas, no entanto, por serem demasiado extensas, não o faremos neste momento. Confraternização, convívio e perpetuação do património cultural, fins subjacentes à actividade, foram atingidos em pleno. A motivação e empenho deste Grupo de Amigos (GAC) constituíram os ingredientes do sucesso desta actividade. Aguardamos, para breve, um novo passeio!!
«...um monstro fabuloso adormecido». Amorim Girão; «a mais linda serra de Portugal». José Júlio César; «a mais pitoresca talvez...». Guia de Portugal; «... é região cheia de encantos». João Arede (Abade de Cucujães).
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